sexta-feira, 29 de maio de 2015

Ensino Religioso em Escolas Públicas - Audiência Pública

Ensino Religioso em Escolas Públicas - Audiência Pública
 
Data designada: 15 de junho de 2015.
(...)
Local: Sala de Sessões da Primeira Turma, Anexo II "B", - 3º andar - Supremo Tribunal Federal.

Referência: ADI nº 4.439
Audiência Pública convocada pelo Ministro Luís Roberto Barroso para subsidiar o julgamento da ação direta de inconstitucionalidade nº 4.439, que discute os modelos de ensino religioso em escolas públicas.
A audiência destina-se a ouvir representantes do sistema público de ensino, de grupos religiosos e não-religiosos e de outras entidades da sociedade civil, bem como de especialistas com reconhecida autoridade no tema. Os expositores deverão se manifestar sobre as seguintes questões e outras que sejam pertinentes: (i) as relações entre o princípio da laicidade do Estado e o ensino religioso nas escolas públicas, (ii) as diferentes posições a respeito dos modelos confessional, interconfessional e não-confessional e do impacto de sua adoção sobre os sistemas públicos de ensino e sobre as diversas confissões religiosas e posições não-religiosas, e (iii) as diferentes experiências dos sistemas estaduais de educação com o ensino religioso.
Quaisquer documentos ou manifestações referentes à audiência pública poderão ser encaminhados pela via eletrônica para o endereço ensinoreligioso@stf.jus.br.
A audiência será transmitida pela TV JUSTIÇA e Rádio JUSTIÇA (art. 154, parágrafo único, V, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal - STF), assim como pelas demais emissoras que assim o requererem. Tais pedidos deverão ser encaminhados à Secretaria de Comunicação Social.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Quem somos?


TABENE é uma organização que oferece serviços de consultoria educacional abrangendo diversas áreas do conhecimento, como direito, filosofia, linguística, cultura geral, cultura afro-brasileira, política, religião e gestão.
Ela tem como Diretor Geral o Professor Mestre José Benedito de Barros, mestre em educação, especialista e bacharel em direito, pós graduando em linguística e licenciado em filosofia. A organização conta com a assistência administrativa de Thainá da Silva Schuveter.

Origem do nome TABENE:
TABENE tem várias origens, como por exemplo:
·        O nome de uma cidade de Camarões, na África.
·        Origem nas línguas africanas, onde “Ta” vem do Yorubá e significa “iluminar” e “Bene” vem do Kimbundo e significa “sim”, “bem”, “bom” e “afirmação”.
·        Na língua portuguesa, “Ta” é a forma coloquial de ‘está’, terceira pessoa do singular do verbo ‘estar’. Já “Bene”, em algumas línguas neolatinas, significa “bem”.

Que serviços oferecemos?
  • ·        Docência:

Nossa organização oferece cursos, aulas, palestras, simpósios, seminários e encontros sobre as línguas africanas (Yorubá, Kimbundo, Kijinga), história, filosofia, direito, política, gestão, cultura afro-brasileira, religião e linguística. Além disso, oferece preparação para concursos e exames em geral.
  • ·        Elaboração de textos:

Projetos em geral, projeto político-pedagógico, pareceres, ensaios, apostilas e cadernos.
  • ·        Orientações:

Orientações para elaboração de projetos e trabalhos acadêmicos.
  • ·        Traduções e versões:

Inglês-Português, Francês-Português, Espanhol-Português, Yorubá-Português, Kimbundo-Português, Kijinga-Português.

CONTATO:
TABENE CONSULTORIA EDUCACIONAL
FONE: (19) 98401-5048
EMAIL: tabene.consultoriaeducacional@gmail.com
BLOG: tabeneconsultoriaeducacional.blogspot.com.br
LOCAL: Limeira,SP.


sábado, 7 de abril de 2012

Itọ́jú: a essência da espiritualidade africana tradicional está no cuidado

Culto aos orixás, voduns, inkices, eguns; ebós, feitiços, macumbas, mandingas. Estas e outras atividades são comumente atribuídas à espiritualidade tradicional africana. Mas qual é de fato a realidade? Qual e a essência da espiritualidade africana tradicional?

Trata-se de questão difícil, pois a quantidade de maneiras de exercício da espiritualidade entre os africanos tradicionais na África e na diáspora é proporcional à quantidade de povos e culturas africanas. Por isso, neste pequeno texto, pretendemos nos contentar com uma visão sucinta da espiritualidade tradicional africana yorubá. Desde já advertimos que não é nosso intuito esgotar o tema, mas apenas apresentar um breve recorte interpretativo.

Muitos praticantes da espiritualidade africana, notadamente os cultuadores de orixá, muito se preocupam em realizar seus ebós, que consistem em oferendas e sacrifícios aos seus orixás. Pensam com isso estar cuidando de seus orixás. Pois bem, propomos uma outra maneira de entender a questão.

A histórica e cultura yorubá nos mostram que nossa preocupação tem que ser com o cuidado (itọ́jú). Devemos cuidar de nós mesmos, de nossa casa, dos membros de nossa família, de nossa comunidade e de nossa sociedade. Devemos ainda cuidar do nosso mundo material (àiyè) e de tudo o que há nele.

1. O cuidado de nós mesmos (orí, ara, ẹ̀mí, ìwà).


Tọ́jú orí rẹ. Cuide de sua cabeça. O orí é nossa cabeça, que compreende tanto a nossa cabeça física quanto nossa cabeça interior (orí inú). No orí estão nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossa consciência. Estar com um orí saudável é garantia de reflexões consistentes e tomadas de decisões acertadas. Bons estudos, pesquisas, lazer e cultivo de boas amizades podem ajudar a ter um bom orí.

Tọ́jú ara rẹ. Cuide de seu corpo. O ara é nosso corpo. O cuidado com nosso corpo revela muito do que somos. O cuidado com o corpo envolve, entre outras coisas, a higiene (ìmọ́tótó), a boa alimentação (ounjẹ) e a boa saúde (ìlera).

Tọ́jú ẹ̀mí rẹ. Cuide de seu espírito. O ẹ̀mí é a própria vida representada pela respiração. Aqui não se trata de uma vida qualquer, mas de vida digna, de vida longa, de vida significativa. Cada ser humano precisa descobrir ou escolher uma função para exercer em sua casa (ilé), na sua rua (ìta) na sua família (ìdílé) e na comunidade ou sociedade (ẹgbẹ́). Cuidar do ẹ̀mí significa cultivar hábitos pessoais e sociais saudáveis, que conservem e prolonguem a existência individual e coletiva.

Tọ́jú ìwà rẹ. Cuide de suas maneiras, de seu caráter. Ter um bom comportamento é fundamental. De nada adianta rituais religiosos bem feitos, grandes conhecimentos adquiridos com a educação escolar, se o caráter é ruim, se as maneiras são deselegantes. Precisamos cultivar o ìwàrere (bom caráter), o ìwà-pẹ̀lẹ́ (gentileza), o ìwà-ọ̀run (virtude) e ìwà mímọ́ (requinte, elegância, qualidade). Precisamos evitar o ìwà-àìmọ́ (comportamento sujo), ìwà ìbàjẹ́ (corrupção, mau comportamento) e o ìwà-búrurú (mau caráter).

2. O cuidade de nossa família, da comunidade e da sociedade (ilé, ìdílé, ìta e ẹgbẹ́)

Tọ́jú ilé rẹ. Cuide de sua casa. Ilé é a casa, tanto o espaço de convivência quanto a família (ìdílé). Na família há o pai (bàbá), a mãe (iyá), o avô bàbánlá, a avó (iyánlá) e filhos (àwọn ọmọ). Há ainda os outros parentes (arás). Na casa, pais e mães têm a obrigação de cuidar bem de seus filhos. Os filhos devem honrar pai e mãe e, quando for necessário, também cuidar deles.

Tọ́jú ìta àti ẹgbẹ́ rẹ. Cuide de sua rua e de sua comunidade ou sociedade. Se cuidarmos bem de nós mesmos, de nossa casa e de nossa família, estaremos prontos para enfrentar os problemas da rua e de nossos vizinhos (ìta) bem como os da comunidade ou sociedade (ẹgbẹ́).

3. O cuidado do planeta (àiyè)
Tọ́jú àiyè tiwa. Cuide de nosso planeta terra. O “àiyè” é nosso mundo material, enquanto que “ọ̀run” é o mundo espiritual. Lutar pelo àiyè deve ser preocupação de todos. Cuidar de nossa casa maior, o ambiente onde vivemos é tarefa das mais importantes e urgentes. Não cuidar de nossa casa maior é comprometer nossa própria sobrevivência enquanto seres humanos.

Esperamos ter contribuído com alguns elementos para refletir sobre a espiritualidade tradicional africana. Procuraremos futuramente desenvolver com maior profundidade as questões aqui esboçadas.

José Benedito de Barros, Olùkọ́ ti èdè yorùbá

domingo, 26 de junho de 2011

Francisco de Assis


Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como São Francisco de Assis (Assis, 5 de julho 1182 [1]3 de outubro de 1226), foi um frade católico da Itália. Depois de uma juventude irrequieta e mundana, voltou-se para uma vida religiosa de completa pobreza, fundando a ordem mendicante dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos, que renovaram o Catolicismo de seu tempo. Com o hábito da pregação itinerante, quando os religiosos de seu tempo estavam mais ligados aos mosteiros rurais, e com sua crença de que o Evangelho devia ser seguido à risca, imitando-se a vida de Cristo, desenvolveu uma profunda identificação com os problemas de seus semelhantes e com a humanidade do próprio Cristo. Sua atitude foi original também quando afirmou a bondade e a maravilha da Criação, quando se dedicou aos mais pobres dos pobres, e quando amou todas as criaturas chamando-as de irmãos. Alguns estudiosos afirmam que sua visão positiva da natureza e do homem, que impregnou a imaginação de toda a sociedade de sua época, foi uma das forças primeiras que levaram à formação da filosofia da Renascença.[2]

Dante Alighieri disse que ele foi uma "luz que brilhou sobre o mundo", e para muitos ele foi a maior figura do Cristianismo desde Jesus, mas a despeito do enorme prestígio de que ele desfruta até os dias de hoje nos círculos cristãos, que fez sua vida e mensagem serem envoltas em copioso folclore e darem origem a inumeráveis representações na arte, a pesquisa acadêmica moderna sugere que ainda há muito por elucidar quanto aos aspectos políticos de sua atuação, e que devem ser mais exploradas as conexões desses aspectos com o seu misticismo pessoal. Sua vida é reconstruída a partir de biografias escritas pouco após sua morte e,segundo alguns críticos, essas fontes primitivas ainda estão à espera de edições críticas mais profundas e completas, pois apresentariam contradições factuais e seriam inclinadas a fazerem uma apologia de seu caráter e obras, e assim, deveriam ser analisadas sob uma óptica mais científica e mais isenta de apreciações emocionais do que tem ocorrido até agora, a fim de que sua verdadeira estatura como figura histórica e social, e não apenas religiosa, se esclareça. De qualquer forma, sua posição como um dos grandes santos da Cristandade se firmou quando ele ainda era vivo, e permanece inabalada. Foi canonizado pela Igreja Católica menos de dois anos após falecer, em 1228, e por seu apreço à natureza é mundialmente conhecido como o santo patrono dos animais e do meio ambiente.[3]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Assis

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Mãe Menininha do Gantois: Iyalorixá brasileira

Mãe Menininha do Gantois: Iyalorixá (mãe-de-santo) brasileira
10/02/1894, Salvador (BA)
13/08/1986, Salvador, (BA)

Escolástica Maria da Conceição Nazaré, filha de Oxum, era do terreiro do Gantois. Considerada a grande mãe-de-santo do Candomblé no Brasil, Menininha do Gantois foi uma grande líder espiritual que ajudou a tornar mais aceita a religião herdada de seus ancestrais africanos.

"Menininha" foi o apelido que a avó deu a menina pobre da periferia de Salvador, que dava aos bonecos improvisados os nomes das divindade do Candomblé: Oxossi, Ogum, Oxum e outros. Além disso, desde pequena gostava de jogar búzios. Era bisneta de Maria Júlia da Conceição Nazaré, que havia fundado, em meados do século 19, o Ilê Iya Omin Axé Iyamassê, mais conhecido como terreiro do Gantois (nome do antigo proprietário francês do terreno).

Sob a orientação das mulheres da família, Menininha foi iniciada nos segredos da religião africana e preparada para o cargo que assumiria no futuro, de ialorixá (mãe-de-santo, na língua ioruba). Menininha trabalhou como costureira e aos 29 anos, casou-se com o advogado Álvaro McDowell de Oliveira, descendente de ingleses, com quem teve duas filhas, Cleusa e Carmem.

Com a morte de sua tia-avó, mãe Pulchéria, segunda ialorixá a governar o Gantois, menininha assumiu a responsabilidade de administrar um dos terreiros mais antigos de Salvador, formar filhos-de-santo e ser a líder espiritual de centenas de pessoas.

Em 1924, prestes a completar 30 anos, Menininha mudou-se para o Gantois junto com o marido e a filha mais velha. A partir de então, passou a ser conhecida como Mãe Menininha do Gantois. Na época enfrentou preconceitos e perseguições e teve que se impor com sabedoria. Segundo a lei, as festas só poderiam ser realizadas em determinados horários e mediante uma autorização por escrito. Mas isso, não impedia que os policiais invadissem os terreiros, com violência.

Os anos de opressão só terminaram em 1976, quando o então governador da Bahia, Roberto Santos, sancionou um decreto liberando as casas de Candomblé da obtenção de licença e do pagamento de taxas à delegacia de Jogos e Costumes. Com o passar do tempo, a popularidade de Mãe Menininha foi crescendo. Nos anos 80, turistas, políticos, artistas e intelectuais a procuravam em busca de conselhos, orientações ou informações para suas pesquisas.

A ialorixá também recebia as pessoas humildes e sempre oferecia café ou comida aos visitantes, fossem eles pobres ou chefes-de-Estado. Sua aversão à fama não impediu que recebesse diversas homenagens, especialmente de artistas e amigos ilustres. Entre elas, a mais conhecida é a música "Oração a Mãe Menininha", que Dorival Caymmi compôs em 1972.

http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u556.jhtm

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quem é Dalai Lama?

Tenzin Gyatso, Sua Santidade o 14º Dalai Lama, é ao mesmo tempo líder temporal e espiritual do povo tibetano.
Nasceu em 6 de julho de 1935, numa família de camponeses da pequena vila de Taktser, na provincia de Amdo, situada no nordeste do Tibet.
Seu nome era Lhamo Dhondup até o momento em que, com dois anos de idade, Sua Santidade foi reconhecido como sendo a reencarnação de seu predecessor, o 13º Dalai Lama, Thubten Gyatso. Os Dalai Lamas são tidos como manifestações de Avalokiteshvara ou Chenrezig, o Bodhisattva da Compaixão e patrono do Tibet.
Um Bodhisattva é um ser iluminado que adiou sua entrada no nirvana e escolheu renascer para servir à humanidade.

Educação no Tibet

Sua Santidade o Dalai Lama começou sua educação monástica aos seis anos. O currículo consistia de cinco disciplinas maiores e cinco menores. As maiores são: lógica, arte e cultura tibetana, sânscrito, medicina e filosofia budista — e esta por sua vez se compõe de outras cinco categorias: Prajnaparamita, a perfeição da sabedoria; Madhyamika, a filosofia do Caminho do Meio; Vinaya, o cânone da disciplina monástica; Abhidharma, metafísica; e Pramana, lógica e epistemologia. As disciplinas menores são: poesia, música e teatro, astrologia, gramática e sinônimos. Aos 23 anos, fez seu exame final no Templo de Jokhang, em Lhasa, durante o o Festival Anual de Orações Mönlam. Foi aprovado com honras e recebeu o grau de Geshe Lharampa (título máximo, equivalente a um Doutorado em Filosofia 1ista). Em complemento a esses temas budistas, estudou inglês, ciências, geografia e matemática.

Responsabilidades de Líder

Em 1950, com 15 anos de idade, Sua Santidade foi solicitado a assumir a completa responsabilidade política como chefe de estado e de governo, após a invasão chinesa do Tibet. Em 1954, foi a Beijing para tratativas de paz com Mao Tsetung e outros lideres chineses, como Chou En-Lai e Deng Xiaoping. Em 1956, durante visita à Índia para participar das festividades do aniversário de 2500 anos de Buda, esteve presente em uma série de reuniões com Nehru, o Primeiro Ministro Indiano, e o Premiê Chou, sobre a situação do Tibet que se deteriorava rapidamente.
Seus esforços para alcançar uma solução pacífica para o problema sino-tibetano foram frustrados pelas atrocidades da política chinesa, no leste do Tibet, dando origem a um levante popular. Esse movimento de resistência espalhou-se por outras partes do País, e em 10 de Março de 1959, Lhasa, a capital do Tibet, explodiu em um grande levante. As manifestações da resistência tibetana exigiam que a China deixasse o Tibet, reafirmando a sua independência.
Quando a situação se tornou insustentável, pediu-se ao Dalai Lama que saísse do país para continuar no exílio a luta pela libertação. Sua Santidade seguiu para a Índia, que lhe concedeu asilo político, acompanhado de outros oitenta mil refugiados tibetanos. Hoje há mais de 120.000 tibetanos vivendo como refugiados na Índia, Nepal, Butão e no Ocidente. Desde 1960, Sua Santidade reside em Dharamsala, uma pequena cidade no norte da Índia, apropriadamente conhecida como "Pequena Lhasa", por sediar a sede do governo tibetano no exílio.
Desde a invasão chinesa, Sua Santidade apresentou vários recursos às Nações Unidas sobre a questão tibetana. A Assembléia Geral adotou três resoluções sobre o Tibet, em 1959, 1961 e 1965.

Processo de Democratização

Com o estabelecimento do Governo Tibetano no Exílio, Sua Santidade percebeu que a tarefa mais imediata e urgente era lutar pela preservação da cultura tibetana. Fundou 53 assentamentos agrícolas de larga escala para acolher os refugiados; idealizou um sistema educacional tibetano autônomo (existem hoje mais de 80 escolas tibetanas na Índia e Nepal) para oferecer às crianças refugiadas tibetanas pleno conhecimento de sua língua, história, religião e cultura. Em 1959 criou o Instituto Tibetano de Artes Dramáticas; o Instituto Central de Altos Estudos Tibetanos se transformou em uma universidade para os tibetanos na Índia. Sua Santidade inaugurou vários institutos culturais com o propósito de preservar as artes e ciências tibetanas, e ajudou a restabelecer mais de 200 monastérios para preservar a vasta obra de ensinamentos do budismo, a essência do espírito tibetano.
Pelo lado da política, em 1963 Sua Santidade apresentou o esboço de uma constituição democrática para o Tibet, baseada nos princípios budistas e na Declaração Universal dos Direitos Humanos. A nova constituição democrática promulgada como resultado desta reforma foi denominada "Carta dos Tibetanos no Exílio". Essa carta defende a liberdade de expressão, crença, reunião e movimento. Oferece também detalhadas linhas de ação para o funcionamento do governo tibetano no que diz respeito aos que vivem no exílio.
Em 1992, Sua Santidade publicou linhas diretrizes para a constituição de um futuro Tibet livre. Anunciou que o a primeira e imediata tarefa do Tibet libertado será estabelecer um governo interino com a principal responsabilidade de eleger uma Assembléia Constituinte, para criar e implantar uma constituição democrática tibetana. Nesse dia, Sua Santidade transferirá toda a sua autoridade política e histórica para o Presidente interino, passando a viver como um cidadão comum. Ele também afirmou esperar que o Tibet, incluindo suas tradicionais três províncias (U-Tsang, Amdo e Kham), seja federativo e democrático.
Em maio de 1990, as reformas propostas por Sua Santidade deram ensejo à realização de uma administração verdadeiramente democrática para a comunidade tibetana no exílio. O Gabinete tibetano (Kashag), que até então sempre fora indicado por Sua Santidade, foi dissolvido, juntamente com a Décima Assembléia de Deputados do Povo Tibetano (o Parlamento tibetano no exílio). Nesse mesmo ano, tibetanos exilados no subcontinente indiano e em mais de 33 outros países elegeram 46 membros da ampliada 11ª Assembléia Tibetana, numa votação direta. A Assembléia, por sua vez, elegeu os novos membros do Gabinete. Em setembro de 2001, um passo ainda maior para a democratização foi dado quando o eleitorado tibetano elegeu diretamente o Kalon Tripa, ministério-mor do Gabinete, que por sua vez indicou seu próprio Gabinete, a ser aprovado pela Assembléia Tibetana. Na longa história do Tibet, essa foi a primeira vez que o povo elegeu seus líderes políticos.

Iniciativas pela paz

Em setembro de 1987, Sua Santidade propôs o Plano de Paz de Cinco Pontos para o Tibet, como um primeiro passo na direção de uma solução pacífica para a situação que rapidamente se deteriorava no país. Em sua visão, o Tibet se tornaria um santuário, uma zona de paz no coração da Ásia, em que todos os seres sencientes poderiam viver em harmonia, com o delicado equilíbrio ambiental preservado. A China, até o momento, não respondeu positivamente às várias propostas de paz criadas por Sua Santidade.

O Plano de Cinco Pontos

Em seu discurso aos membros do Congresso Americano em Washington, D.C., realizado em 21 de setembro de 1987, Sua Santidade propôs o seguinte plano de paz, composto por cinco pontos básicos:
  1. Transformação de todo o Tibet em uma zona de paz.
  2. Cessação da política chinesa de transferência de população, que ameaça a própria existência dos tibetanos como povo.
  3. Respeito pelos direitos humanos fundamentais dos tibetanos, bem como de suas liberdades democráticas.
  4. Restauração e proteção do ambiente natural tibetano, e o abandono do uso do território tibetano, pela China, para produção de armas nucleares e como depósito de lixo nuclear.
  5. Início de negociações sérias sobre o futuro status do Tibet e das relações entre os povos chinês e tibetano.

Proposta de Estrasburgo

Discursando no Parlamento Europeu de Estrasburgo, na França, em 15 de junho de 1988, Sua Santidade detalhou minuciosamente o último dos Cinco Pontos desse plano de paz. Ele propôs o estabelecimento de conversações entre chineses e tibetanos para a criação de um governo autônomo das três províncias tibetanas, "em associação com a República Popular da China". O governo chinês continuaria sendo responsável pela política exterior e defesa do Tibet.
Para Sua Santidade, essa proposta era "o modo mais realista para se restabelecer uma identidade independente do Tibet e restituir os direitos fundamentais do povo tibetano, conciliando ao mesmo tempo os próprios interesses da China." Enfatizou por outro lado que "qualquer que seja o resultado das negociações com os chineses, o povo tibetano por si mesmo deve ser a autoridade decisória máxima."
Posteriormente, no entanto, em 2 de Setembro de 1991 (Dia da Democracia Tibetana), o Governo do Tibet no exílio declarou que a Proposta de Estrasburgo não estava mais em vigor: "Sua Santidade, o Dalai Lama, deixou bem claro, em sua declaração de 10 de março, que em razão da atitude fechada e negativa da atual liderança chinesa, percebeu que seu compromisso pessoal com as idéias expressas na proposta de Estrasburgo tornou-se sem efeito, e que se não houver novas iniciativas por parte dos Chineses ele se considerará livre de qualquer obrigação com relação a essa proposta. Entretanto, continua firmemente compromissado no caminho da não violência e em encontrar uma solução para a questão tibetana através de negociações e entendimentos. Sob as atuais circunstâncias, Sua Santidade, o Dalai Lama, não mais se sente obrigado ou limitado a manter a Proposta de Estraburgo como uma base para encontrar uma solução pacífica para o problema tibetano."

Contatos Oriente-Ocidente

Desde 1967, Sua Santidade iniciou uma série de viagens que o levaram a 42 países. Em fevereiro de 1990, foi convidado pelo Presidente Vaclav Havel para ir à Tchecoslováquia, onde divulgaram uma declaração conjunta incitando "todos os políticos a desvencilharem-se de restrições e interesses de grupos públicos ou privados e a guiarem suas mentes por sua própria consciência, sentimento e responsabilidade, fundamentados na verdade e na justiça."
Em 1991, encontrou-se com o Presidente dos Estados Unidos da América, George Bush, Neill Kinnock, o lider britânico de opsição, os ministros das Relações Exteriores da França e da Suíça, o Chanceler e Presidente da Áustria, e vários outros membros de governo estrangeiros. Em reuniões com líderes políticos, religiosos, culturais e comerciais, como também em grandes platéias em universidades, igrejas ou centros comunitários, falou de sua crença na união da família humana e da necessidade do desenvolvimento de um senso de responsabilidade universal.
Sua Santidade disse: "Vivemos atualmente em um mundo interdependente. Os problemas de uma Nação não podem ser solucionados muito tempo somente por ela mesma. Sem um senso de responsabilidade universal, nossa sobrevivência está em perigo. Basicamente, responsabilidade universal significa sentir pelo sofrimento de outras pessoas o mesmo que sentimos pelo nosso próprio sofrimento. Eu sempre acreditei num melhor entendimento, numa cooperação mais próxima e num respeito maior entre as várias Nações do mundo. Além disso, sinto que o amor e a compaixão são a tessitura moral para chegar à paz mundial."
Sua Santidade encontrou-se no Vaticano com os papas Paulo VI (em 1973) e João Paulo II (em 1980, 1982, 1986, 1988 e 1990).
Em um encontro com a imprensa em Roma, em 1980, expressou deste modo seu desejo de se encontrar com o Papa João Paulo II: "Vivemos em um período de grandes crises, de desenvolvimentos mundiais turbulentos. Não é possível encontrar paz na alma sem segurança e harmonia entre os povos. Por esta razão, espero ansiosamente por um encontro com o Santo Padre, para trocar idéias e sentimentos, e para ouvir suas sugestões sobre os caminhos para uma pacificação progressiva entre os povos."
Em 1981, Sua Santidade conversou com o Arcebispo de Canterbury, Dr. Robert Runcie, e com outros líderes da Igreja Anglicana em Londres. Ele também se encontrou com lideranças da Igreja Católica e comunidades judaicas, e pronunciou-se em um serviço interreligioso promovido em sua honra pelo Congresso Mundial da Fé. Em Outubro de 1989, durante um diálogo realizado em Dharamsala contando com a presença de oito rabinos e acadêmicos dos Estados Unidos, Sua Santidade enfatizou: "Quando nos tornamos refugiados, sabemos que nossa luta não seria fácil; ela levará muito tempo, gerações. Com freqüência nos referimos ao povo judeu e à forma como ele manteve sua identidade e fé a despeito de tamanha privação e sofrimento. Quando as condições externas amadureceram, ele estava prontos para reconstruir sua nação. Assim, pode-se concluir que há muitas coisas a aprender com os irmãos e irmãs judeus."
Em outro fórum sobre a comunhão de fé e a necessidade de união entre as diferentes religiões, ele afirmou: "Sempre acreditei que é muito melhor termos uma série de religiões e várias filosofias, do que uma única religião ou filosofia. Isto é necessário por causa das disposições mentais diferentes de cada ser humano. Cada religião possui certas idéias ou técnicas características, e aprender sobre elas só pode enriquecer a fé de alguém."

Reconhecimento universal e prêmios

Desde sua primeira visita ao ocidente, em 1973, a reputação de Sua Santidade como acadêmico e homem de paz só fez crescer, incessantemente. Nos últimos anos, um grande número de universidades e instituições em todos o mundo têm lhe conferido Prêmios da Paz e títulos de Doutor Honoris Causa, em reconhecimento pelos seus escritos sobre a filosofia budista e sua liderança a serviço da liberdade, da paz e da não-violência. Um desse títulos, o de Doutor, foi conferido pela Universidade de Seattle, em Washington, EUA.
O seguinte resumo da menção dessa Universidade reflete a estatura de Sua Santidade: "No reino da mente e espírito, o senhor se distinguiu na rigorosa tradição das universidades budistas, alcançando o Grau de Doutor com as mais altas honras, com a idade de 25 anos. No âmbito de assuntos diplomáticos e governamentais, não obstante, o senhor encontrou tempo para lecionar e registrou de forma escrita seus sutis insights sobre filosofia e o significado da vida contemplativa no mundo moderno. Seus livros representam uma contribuição significativa não somente para o vasto corpo de literatura budista, mas também para o diálogo ecumênico entre as grandes religiões mundiais. Sua própria dedicação à vida monástica e contemplativa tem alcançado a admiração não somente por parte dos budistas, mas também dos meditadores cristãos, incluindo o monge Thomas Merton, cuja amizade e conversações com o senhor eram extremamente férteis."
Ao apresentar o Prêmio de Direitos Humanos Congressional Raoul Wallenberg em 1989, o Congressista Americano Tom Lantos disse: "A luta corajosa de Sua Santidade o Dalai Lama o tem distinguido como um líder dos direitos humanos e da paz mundial. Seus esforços contínuos para cessar o sofrimento do povo tibetano através de negociações pacíficas e reconciliação têm exigido dele enorme coragem e sacrifício."

O Prêmio Nobel da Paz de 1989

A decisão do Comitê Norueguês do Prêmio Nobel de conferir à Sua Santidade o Prêmio da Paz ganhou reconhecimento e aplauso mundial. A citação diz: "O Comitê deseja enfatizar o fato de que o Dalai Lama, em sua luta para a liberação do Tibet, constantemente se opõe ao uso da violência. Ele, em vez disto, advoga soluções pacíficas baseadas na tolerância e respeito mútuos para a preservação da herança cultural e histórica de seu povo. O Dalai Lama desenvolveu sua filosofia de paz com uma grande reverência por todas as coisas vivas, e um conceito de responsabilidade universal que envolve toda a humanidade e também a natureza. Na opinião do Comitê, o Dalai Lama vem se conduzindo com propostas construtivas e visionárias para a solução de conflitos internacionais, questões de direitos humanos e problemas ambientais globais."
Em 10 de Dezembro de 1989, Sua Santidade aceitou o prêmio em nome de todos os oprimidos no mundo e daqueles que lutam pela liberdade e trabalham pela paz mundial e pleo povo do Tibet. Em suas considerações, disse: "O prêmio reafirma a nossa convicção de que com a verdade, coragem e determinação como nossas armas, o Tibet será libertado. Nossa luta deve permanecer sem violência e livre de ódio."
Ele também enviou uma mensagem de encorajamento pelo movimento democrático chinês, cuja recente manifestação na Praça da Paz Celestial havia sido alvo de brutal repressão. "Na China, o movimento popular pela democracia foi subjugado pela força bruta, em junho deste ano. Não acredito que as manifestações foram em vão, porque o espírito de liberdade renasceu no povo chinês, e a China não pode escapar do impacto desse espírito, que sopra em muitas partes do mundo. Os corajosos estudantes e seus defensores mostraram à liderança chinesa e ao mundo a face humana daquela grande nação."

Simplesmente um monge budista

Sua Santidade o Dalai Lama freqüentemente diz: "Eu sou simplesmente um monge budista — nem mais nem menos." Ele realmente segue os preceitos da vida de um monge. Vivendo em uma pequena cabana em Dharamsala, levanta-se todos os dias às 4 horas da manhã para meditar, e cumpre uma atribulada agenda de encontros administrativos, audiências particulares, ensinamentos e cerimônias religiosas. Conclui o dia, sempre, com orações. Ao revelar as suas maiores fontes de inspiração, ele normalmente cita seus versos favoritos, encontrados nos escritos do reconhecido santo budista Shantideva:
Enquanto o espaço existir, enquanto seres humanos permanecerem, devo eu também permanecer para dissipar a miséria do mundo.
(Traduzido por Fátima Ricco Lamac e revisado por Arnaldo Bassolli.)

Frases de Dalai Lama

Cerca de 55 frases de dalai lama
Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.
Ame profunda e passionalmente. Você pode se machucar, mas é a única forma de viver o amor completamente.
Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar.
Determinação coragem e auto confiança são fatores decisivos para o sucesso.
Se estamos possuidos por uma inabalável determinação conseguiremos superá-los.
Independentimente das circustancias,devemos ser sempre humildes,recatados e despidos de orgulho.
"Seja a mudança que você quer ver no mundo."
Pouco importa o julgamento dos outros.Os seres são tão contraditórios que é impossivel atender às suas demandas, satisfazê-los. Tenha em mente simplesmente ser autêntico e verdadeiro...
Uma árvore em flor fica despida no outono. A beleza transforma-se em feiúra, a juventude em velhice e o erro em virtude. Nada fica sempre igual e nada existe realmente. Portanto, as aparências e o vazio existem simultaneamente
A arte de escutar é como uma luz que dissipa a escuridão da ignorância.
Seja a mudança que você quer ver no mundo.
Viva uma vida boa e honrada. Assim, quando você ficar mais velho e pensar no passado, poderá obter prazer uma segunda vez.
Aprimorar a paciência requer alguém que nos faça mal e nos permita praticar a tolerância.
Creio que a pessoa que teve mais experiência de privações consegue enfrentar problemas com mais firmeza que a pessoa que nunca passou por sofrimento. Portanto, visto por esse ângulo, um pouco de sofrimento pode ser uma boa lição para a vida.
Cultivar estados mentais positivos como a generosidade e a compaixao decididamente conduz a melhor saude mental e a felecidade
· Julgue seu sucesso pelas coisas que você teve que renunciar para conseguir
"Desenvolver força, coragem e paz interior demanda tempo. Não espere resultados rápidos e imediatos, sob o pretexto de que decidiu mudar. Cada ação que você executa permite que essa decisão se torne efetiva dentro de seu coração."
Ame profunda e passionalmente. Você pode se machucar, mas é a única forma de viver o amor completamente.
A verdadeira compaixão não consiste em sofrer pelo outro. Se ajudamos uma pessoa que sofre e nos deixamos invadir por seu sofrimento, é que somos ineficazes e estamos tão somente reforçando nosso ego.
Algumas pessoas têm amor por você, outras têm raiva. O que sentem nem sempre depende de seu comportamento. As reações delas às vezes são justas, outras vezes são injustas. Dê sem contabilizar. E esteja atento às necessidades delas.
É engraçado como depositamos tanta confiança e tanto sentimento nas pessoas. Em pessoas que achávamos conhecer, mas, que no fim, só mostraram ser iguais a todos. E por esperar demais, sonhar demais, criar expectativas demais, sempre acabamos nos decepcionando e nos machucando cada vez mais.
Só existem dois dias do ano em que nada pode ser feito, o dia de ontem e o dia de amanhã.
Portanto hoje é o dia certo. Sonhe, acredite e principalmente FAÇA.
http://pensador.uol.com.br/frases_dalai_lama/

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Consumo: Desafio Ético, artigo de Frei Betto

Publicado em junho 2, 2009 por HC

Imagem: Corbis
[EcoDebate] Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos, com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente.
Aquilo me fez refletir: “Qual dos dois modelos produz felicidade?”
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não, tenho aula à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde”. “Não”, retrucou ela, “tenho tanta coisa de manhã…” “Que tanta coisa?”, perguntei. “Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada.
Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: “Tenho aula de meditação!”
Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um super-executivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!
Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.
Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!”
Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir- se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega AIDS, não há envolvimento emocional, controla- se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real!
É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais.
Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais.
A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito.
Televisão, no Brasil – com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’ ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.
Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres:
“Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose. Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde?
Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir!
O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista.
Assim, pode-se viver melhor.
Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse. Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno.
Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade – a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas…
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista.
Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.
Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno…
Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald’s.
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”
Sugestão:
Vídeo educativo sobre o CONSUMO INSUSTENTÁVEL – A História das Coisas

O CONSUMO INSUSTENTÁVEL – numa linguagem bem simples para entender como nosso modo de vida está aniquilando com o Planeta.
Original produzido nos Estados Unidos: Vídeo: A História das Coisas /The Story of Stuff
* Artigo enviado por Frei Gilvander Moreira, colaborador e articulista do EcoDebate. [www.gilvander.org.br]
[EcoDebate, 02/06/2009]

http://www.ecodebate.com.br/2009/06/02/consumo-desafio-etico-artigo-de-frei-betto/